O Brasil já assistiu a esse filme, há quatro anos, quando São Paulo viveu uma onda de terrorismo praticada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), a principal facção do crime organizado paulista. Agora o fenômeno se repete, a 600 quilômetros da capital paulista. Os cariocas vivem dias de horror e o motivo, podem ficar certos, é igual ao de 2006: os chefões do crime se sentem acuados.
As autoridades fluminenses estão convencidas de que os ataques foram ordenados por líderes da facção criminosa Comando Vermelho (CV), a maior e mais agressiva do Rio. Foi um dia típico de cidades em guerra, no Rio. Cinco homens atearam fogo em uma caminhonete e dois carros, em Irajá, na zona norte, e metralharam uma cabine da Polícia Militar. Na Linha Vermelha, uma das principais vias expressas do Rio, seis criminosos incendiaram outros dois carros e atiraram contra um veículo da Aeronáutica. Ninguém morreu. Por detalhe.
Os bandidos estão furiosos com presença das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nas favelas outrora controladas pelo tráfico. A gota de água é a transferência de chefes do tráfico para o presídio federal de Catanduvas (PR).
Para enfrentar a nova onda de ataques, o governo estadual determinou que o esquema especial de policiamento do fim do ano fosse antecipado. Escalas de policiais foram reduzidas para aumentar o efetivo do patrulhamento nas ruas.
— Claro que isso tem a ver com a reorganização do território que reconquistamos. Vamos continuar pacificando, porque ainda tem comunidades que servem de fortaleza e escudo para o crime — disse o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB).
Mesmo que o governo fluminense silencie a respeito, a verdade é que a “limpeza” com relação aos bastiões do crime começou pelos cartões-postais do Rio, todos situados na badalada Zona Sul. É ali que estão os turistas, ali que ecoam os tambores da guerra mundo afora. A Zona Norte foi relegada a segundo plano. Natural que os bandidos tenham se reorganizado e se armado lá, de onde partiram os ataques do fim de semana.
O secretário da Segurança Pública do Rio, o gaúcho José Mariano Beltrame, promete ocupação dos morros da Zona Norte em busca dos autores.
— Esses criminosos apostaram que esse programa iria ser esvaziado. Isso não ocorreu e não vai ocorrer. Vamos dobrar a aposta — desafia Beltrame.
Ele reconhece que a situação é difícil, porque as vias expressas têm 40 saídas – possíveis portas para ataques dos bandidos. Ele não considera necessário o auxílio de tropas federais. Por enquanto. Talvez, com a proximidade da Copa do Mundo, Beltrame seja forçado a pedir água – leia-se, ajuda da aliada Dilma Rousseff.
Histórico de medo
— Em 2006, um ônibus foi interceptado por 15 homens encapuzados, que atearam fogo ao veículo. Nove pessoas morreram.
— Em outubro do ano passado, 2 mil policiais foram mobilizados para impedir o ataque de traficantes contra ônibus. A ameaça ocorreu após a polícia matar mais de 30 supostos traficantes em favelas, após a queda de um helicóptero da PM abatido a tiros.
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