Nos últimos dois meses vem acontecendo, no interior e entre os
diversos grupos ou células que compõem o Anonymous no Brasil diversas
disputas. Estas disputas se devem a divergências entre seus integrantes.
Os Anonymous
O maior grupo, pelo menos no Facebook, é o
Anonymous Br4sil, cuja fan page tem mais de 1.100.000 curtidas.
Outra célula muito expressiva e ativa é o
Anonymous Rio. que tem uma atuação junto aos movimentos sociais cariocas.
Uma terceira célula, saída do interior do Anonymous Br4sil é a
FUEL – Frente Unificadora de Emancipação e Libertação Nacional, que se destaca por buscar construir um perfil mais ideológico para os diversos grupos Anonymous no país.
Também são expressivas as fan pages
Anonimos BR e
Anonymous Brasil, ambas com um perfil definido de oposição ao governo Dilma e ao PT.
As células Anonymous buscam, sempre que possível – e quase sempre é
possível – trabalhar em conjunto. Afinal, o lema usado por eles é
“unidos como um, dividido por zero”.
A Revolução Digital e a Revolta dos Coxinhas
Entretanto, nos últimos dois meses temos presenciado no Brasil
intensas e imensas manifestações, verdadeiros levantes populares. Na
minha opinião, isso é mais uma consequência da Revolução Digital, que
assim como teve e segue tendo desdobramentos em várias áreas – indústria
do entretenimento (música, cinema, jogos), mercado de publicações
impressas, nas comunicações de modo geral, e teremos ainda mais
consequências quando as impressoras 3D se popularizarem – também está
tendo desdobramentos na política.
Hoje, as pessoas estão tendo acesso a muitas informações, o tempo
todo. Mesmo quando não querem! Um exemplo é o Facebook, onde a todo
instante algo é publicado, compartilhado, eventos criados, causas
espalhadas. Com essa quantidade de informação disponível, hoje ficamos
sabendo dos fatos logo que eles ocorrem. Informações sobre editais
fraudulentos, agressões físicas às ditas minorias, absurdos realizados
por agentes de governos, escândalos políticos, tudo isso, junto, claro,
com muitas bobagens e memes, se espalha na velocidade da internet.
Por isso, não foi difícil para milhares, milhões de brasileiros e
brasileiras, em todos os estados, em centenas de cidades, se
“organizarem” e saírem às ruas querendo que as coisas melhorem. Pessoas
que nunca haviam reivindicado saíram de sua acomodação e foram pra rua.
Considero isso essencialmente um ato positivo!
Claro que nesse movimento gigantesco as pautas não são claras, nem
poderiam, tamanha a diversidade presente. O estopim parece ter sido a
questão dos reajustes das tarifas de ônibus em várias cidades. Mas esse
foi apenas o estopim para outros clamores, alguns mais consensuais,
outros nem tanto.
As esquerdas e as direitas tradicionais não captaram e não entenderam
essas manifestações. Não entenderam até agora, eu diria. Elas ainda
olham pra esse movimento com olhares do século passado. Não compreendem
as redes, não compreendem as inúmeras ligações entre as pessoas, não
entendem pessoas e causas conectadas. Separam o virtual do real – não
compreendem que não existe essa separação.
Não entendem que a internet coloca as pessoas em contato direto, sem a
necessidade de mediadores, e menos ainda dos mediadores tradicionais,
como partidos e sindicatos.
As manifestações e os Anonymous
Logo nas primeiras duas manifestações pela redução da tarifa em São
Paulo, ficou nítida a importante participação da internet e das fan
pages Anonymous na mobilização e convocação.
Dos cinco sites que mais distribuíam informações e convocavam para os
atos, além do site do Movimento Passe Livre ocupavam espaço central
três fan pages Anonymous.
Nas manifestações seguintes o papel das páginas Anonymous foi ainda
maior, praticamente se tornando as disseminadoras de informações sobre
elas.
A célula Anonymous Rio também teve um papel protagonista nas
manifestações por lá. Aliás, os anons Rio têm participação anterior à
esta onda, tendo mobilizado e participado nas manifestações por ocasião
da remoção da Aldeia Maracanã e seguem mobilizando em oposição ao
governador Sérgio Cabral. Também já organizaram protestos em frente à
sede da Rede Globo em mais de uma ocasião.
Práticas estranhas aos anons
Não é de agora que células anons dirigem uma série de críticas a
outras células anons, principalmente à Anonymous Br4sil e Anonymous BR,
que volta e meia publicam posts com conteúdos homofóbicos,
preconceituosos e de tonalidades tucanas (PSDB). Há quem diga que essas
células são “controladas” pela juventude do PSDB, e seriam ligadas a um
senador tucano. Verdade ou mentira, logo saberemos, pois as eleições se
aproximam e veremos como se comportarão.
O fato é que vários anons que divergiram da forma como as coisas
estavam sendo encaminhadas na Anonymous Br4sil acabaram sendo excluídos
do gerenciamento da fan page.
Os anons excluídos relatam uma prática centralizada, autoritária e
atitudes auto-promocionais. Como é sabido, no Anonymous não se deve
buscar notoriedade, “aparecer” ou qualquer tipo de crédito ou mérito. Se
age por uma causa que beneficie a quem esteja sendo oprimido, seja por
uma empresa, uma organização, um governo. Assim tem sido a história do
Anonymous.
Leia aqui um texto muito esclarecedor sobre as divergências entre os anons brasileiros.
Os vídeos Anonymous
Como o Anonymous não tem porta-vozes, não tem uma cara, se tornou
sujeito à ocorrência de manipulações, tanto pela esquerda quanto pela
direita. Qual o critério para saber se um vídeo tem de fato alguma
relação com o Anonymous? Só tem um jeito: você conhecer a história,
conhecer a Ideia.
Desconfie de vídeos sensacionalistas. O sensacionalismo não é uma
característica dos anons. Desconfie de vídeos com um discurso
senso-comum. O Anonymous busca exatamente tirar as pessoas do
senso-comum. Desconfie de vídeos com discurso igual ao do PSDB ou igual
ao do PT. Anons fazem críticas a estes dois partidos e seus governos,
pois o compromisso do Anonymous é com os fatos, com a verdade, não
importando se vai com isso comprar inimizades com partido ou governo A
ou B.
Um dos vídeos que circulou muito durante as manifestações foi o
chamado “As 5 causas”, que teve sua autoria negada por grupos anons.
Leia aqui o desmentido em outro vídeo do Anonymous.
Estaremos acompanhando a evolução dessa importante disputa de rumos
entre os anons brasileiros, torcendo para que prevaleça a prática que,
historicamente, esteve ao lado dos oprimidos, dos injustiçados, se
levantando e realizando ações em defesa dos povos em luta na África e
Oriente Médio, no Occupy Wall Street, ao lado de Assange e do WikiLeaks,
nos protestos contra o SOPA, PIPA e ACTA.